Luiza Krau nasceu em São João de Meriti, cidade da baixada fluminense (RJ), em 1916. Embora seus pais tivessem poucos estudos e recursos financeiros, sempre prezaram pela educação dos filhos. Desde criança, ela gostava de estudar e de conhecer a natureza. Em 1946, formou-se em História Natural pela Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (FNFi/UB).
Foi o curso de Biologia Marinha, ministrado em 1948 pelo pesquisador francês Pierre Drach, na Estação de Hidrobiologia do Instituto Oswaldo Cruz, que lhe abriu as portas para seu desenvolvimento profissional. A Estação se localizava na Ilha do Pinheiro, no interior da Baía de Guanabara, onde Luiza foi convidada a ingressar como assistente de Lejeune de Oliveira. Ali, ela se dedicou a pesquisas, principalmente, sobre equinodermos, plânctons e monitoramento da poluição das águas.
No laboratório da Estação, no final dos anos 1940, não havia muitas mulheres trabalhando – era um pouco mais fácil encontrá-las na sede do Instituto, na área continental. Seu trajeto se dava de charrete a partir do castelo mourisco de Manguinhos até o cais que dava acesso à ilha. De barca, ela atravessava o Canal de Inhaúma, atualmente aterrado e absorvido pelo complexo da Maré.

De 1951 a 1953, Luiza atuou como professora assistente do curso de Hidrobiologia, ministrado por Lejeune na Estação do IOC. Dentre os diversos cursos oferecidos pelo Instituto no período, este foi o que apresentou um maior equilíbrio de gênero: contemplou um total de 51 alunos e 48 alunas ao longo dos três anos.
Lejeune Oliveira e Luiza Krau exploraram amplamente a Ilha do Pinheiro, traçando o levantamento biogeográfico da região, que abrangeu não só a fauna e flora local como também diversos outros elementos. Dados químicos, térmicos, pluviométricos, o reconhecimento das praias e a altura das marés foram alguns deles.


Além do trabalho de campo, procediam com a observação microscópica, em laboratório, dos espécimes encontrados, a consulta à bibliografia e também a formação de coleções. Luiza descreveu e classificou espécies novas de equinodermos e rotíferos, alguns dos quais coletados por ela própria.
Os locais explorados eram diversos. Dos anos 1950 aos 1970, ela excursionou também à Baía de Sepetiba, próxima à Ilha Grande (RJ), lagoas de Niterói, Saquarema e Maricá, no mesmo estado, Lagoa Santa (MG) e a diferentes ecossistemas do Espírito Santo e Bahia.
Nas redondezas da Ilha do Pinheiro, Luiza Krau chegou a comparar, em 1958, amostras antigas de plânctons da enseada de Inhaúma com as de sua época. E constatou profundas alterações relacionadas à poluição – a Baía de Guanabara já não era mais a mesma.

Com Lejeune de Oliveira e outros cientistas, Luiza visitou diversos sistemas lagunares, observando questões ecológicas e também econômicas, como o impacto da degradação ambiental na atividade pesqueira.
Na Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul do Rio de Janeiro, e na Lagoa de Camorim, em Jacarepaguá, investigaram as causas da grande mortandade de peixes ocorrida nos anos 1950. Questões como variação de salinidade, alterações da biodiversidade, eclosão de gases tóxicos e derramamento de esgoto foram os principais elementos abordados.

Em 1970, analisaram o Lago Paranoá no Distrito Federal, e constataram o desequilíbrio populacional de algas decorrente do aumento da poluição que acompanhou o desenvolvimento da nova capital. Os cientistas alertaram efusivamente, buscando conscientizar a sociedade, sobre os riscos do progresso desordenado e o prejuízo que este pode causar ao meio ambiente e à saúde pública.

Luiza Krau foi efetivada como Biologista do IOC e trabalhou com Lejeune de Oliveira por 30 anos na Estação de Hidrobiologia. Além da Biologia Marinha, eles se especializaram em Limnologia, área que estuda os ecossistemas de água doce. Ela possui inúmeros artigos publicados em autoria única ou em coautoria com outros pesquisadores, como o próprio Lejeune de Oliveira. Colaborou com órgãos públicos, como a Sudepe – Superintendência do Desenvolvimento da Pesca, nos anos 1960, e, desde 1971, pelo menos, recebia bolsa do CNPq na categoria de Chefe de Pesquisas.
A convivência intensa e isolada na ilha com Lejeune trouxe um desdobramento para além da relação profissional: eles casaram-se em 1953 e tiveram uma filha, Luiza Cristina Krau de Oliveira, nascida em 1954. A experiência da maternidade e da conciliação com o trabalho científico foi descrita por Luiza como um sacrifício, que só foi possível enfrentar com o apoio da família e de funcionárias domésticas.

Em meados dos anos 1970, a Estação de Hidrobiologia foi desativada e o casal se transferiu para a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde Lejeune fundou a cadeira de Limnologia do Instituto de Biologia. Luiza seguiu como professora assistente do curso até o falecimento do marido, em 1982. Ela também orientou estagiários e bolsistas no Departamento de Zoologia e reabriu a cadeira de Limnologia em 1985, já prestes a se aposentar.
Embora o nome de seu marido se destaque dentre as principais referências do desenvolvimento em hidrobiologia e bioindicadores no Brasil, a intensa atuação científica de Luiza Krau não pode ser mantida à sombra de seu matrimônio ou da qualidade de dedicada assistente – como ainda é mais comum nas leituras sobre o gênero feminino nas ciências.

Referências:
Depoimento Luiza Krau de Oliveira, 2014. BR RJCOC 05-05-02-17-08
Fundo Lejeune de Oliveira. BR RJCOC LO
SEDREZ, Lise. Lejeune, Luiza e a ilha do Pinheiro: uma experiência pioneira na Baía de Guanabara. Fórum UFRJ em revista. vol.1, n.1, p. 48-50, junho de 2023.
SOUSA, Lia Gomes Pinto de. Mulheres que fazem ciência: oportunidades, pesquisa e carreira científica no Instituto Oswaldo Cruz (1938-1968). Tese (Doutorado em História das Ciências e da Saúde). Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz, Rio de Janeiro. 2023.