
“Garotas pobres devem aproveitar as oportunidades.” Isabel Teresa Cristina Taukane ouviu essa frase de uma professora e levou a mensagem a sério.
Isabel nasceu em 16 de março de 1978 no Rio de Janeiro, cidade onde Dorothy Mayron Taukane trabalhava na “Casa do Índio”, pertencente à FUNAI. Dorothy foi mãe solo e criou a filha na Terra Indígena Bakairi, aldeia central Pakuera, no município de Paranatinga, em Mato Grosso.

Pequena, Isabel recebeu a primeira educação formal na Escola Indígena José Pires Uluco, no território indígena Bakairi. Ela se lembra da precariedade escolar de então, com constante rotatividade de docentes não indígenas. Isso levava indígenas sem licenciatura formal a atuar como docentes na escola. Muito depois as políticas públicas para qualificação docente chegaram às aldeias indígenas do Brasil, e por isso Isabel diz que “carrega o peso da insuficiência” dessa formação inicial.
Isso não a impediu de prosseguir nos estudos. Isabel tem formação superior em Comunicação Social (2004), Pedagogia (2018) e, pela Universidade Estadual de Mato Grosso, Artes Visuais (em andamento). Na Universidade de Brasília, fez Mestrado em Desenvolvimento Sustentável pelo MESPT (2012), iniciativa pioneira de Mestrado junto a Povos e Comunidades Tradicionais. Sua dissertação intitula-se “Na Trilha das Pekobaym Guerreiras Kura-Bakairi: de mulheres árvores ao associativismo do Instituto Yukamaniru”. Para o doutorado, escolheu a Universidade Federal de Mato Grosso e o Programa de Pós-graduação em Cultura Contemporânea (2019). Desenvolveu a tese “Kurâ Iwenu (A nossa pintura): Performance e Resistência na Pintura Corporal Kurâ-Bakairi”.
Nada disso foi de graça. Muito esforço precisou ser empreendido e muitos obstáculos superados. Com uma formação diversa e interdisciplinar, Isabel confessa sentir-se por vezes confusa sobre sua profissão:
“Quando me perguntam sobre minha profissão, sinto-me indefinida, pois sou paga para abordar questões indígenas em diversos projetos, mas meu maior objetivo tem sido meu desenvolvimento pessoal e intelectual. Como uma garota pobre e de origem indígena, aproveito as oportunidades que surgem, eu não possuo linearidade na minha trajetória profissional e acadêmica.”
Os projetos que ela refere são mesmo diversos. Desde 2020, tem atuado em projetos culturais como o Projeto Iakadu de desenvolvimento de negócios criativos, sustentáveis e sociais; o Projeto Kywagâ – ateliê de arte, artesanato e moda indígena Kurâ-Bakairi; o Projeto Kâremu, projeto cultural ligado a cantos tradicionais femininos Bakairi, em andamento, com previsão de lançamento de um álbum musical em novembro de 2025.


Em 2023, engajada no Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena, Isabel Taukane foi convidada para coordenar pesquisa de campo nos territórios Kurâ-Bakairi, Xavante, Karajá e Boé Bororo, investigando especialmente infâncias indígenas.
Desde 2025, é bolsista de Pós-doutorado do CNPq junto ao INCT Caleidoscópio, atuando na nucleação Centro-Oeste. Seguindo a trajetória, também agora Isabel Taukane segue dedicando-se a questões ligadas ao corpo-território indígena, agora com foco em indígenas mulheres nas ciências e em ciências dos povos originários.
Isabel Taukane também participa do Grupo de Trabalho que atualmente subsidia a formulação da proposta de criação e implementação da Universidade Federal Indígena, que deverá ser fundada também em Brasília. A Portaria MEC 536, de 23 de julho de 2025, criou o GT com a finalidade de, com base na sistematização das contribuições resultantes dos seminários de escuta promovidos com povos indígenas em distintas regiões do Brasil, subsidiar a criação da Universidade Indígena, fazer proposições orçamentárias para a fundação, definir diretrizes do projeto pedagógico da nova universidade, entre outros.

O INCT Caleidoscópio orgulha-se desta atuação e apoia a formação superior de mulheres indígenas, o reconhecimento de suas trajetórias, a valorização das ciências indígenas e a fundação da Universidade Federal Indígena.
Referências:
TAUKANE, Isabel Teresa Cristina. Na trilha das Pekobaym guerreiras Kura-Bakairi: de mulheres árvores ao associativismo do Instituto Yukamaniru. 2013. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável, com ênfase em Povos e Terras Indígenas) – Universidade de Brasília, Centro de Desenvolvimento Sustentável, Brasília, 2013.
TAUKANE, Isabel Teresa Cristina. Kurâ iwenu (a nossa pintura): performance e resistência na pintura corporal Kurâ-Bakairi. 2019. Tese (Doutorado em Estudos de Cultura Contemporânea) – Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Comunicação e Artes, Cuiabá, 2019.