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Desigualdades na Oceanografia: mulheres são maioria no Doutorado, mas homens detém mais bolsas de Produtividade

A análise de títulos e concessão de bolsas de pesquisa na área da Oceanografia no Brasil, pertencente à grande área de Ciências Exatas e da Terra, apresenta um fenômeno semelhante ao que ocorre nas Ciências Biológicas e da Saúde. Embora as mulheres sejam maioria dentre as pessoas que obtiveram o título de Doutorado nos últimos 10 anos, os homens concentram 74,26% das bolsas de Produtividade (Pq-CNPq) no mesmo período.

A análise de títulos e concessão de bolsas de pesquisa na área da Oceanografia no Brasil, pertencente à grande área de Ciências Exatas e da Terra, apresenta um fenômeno semelhante ao que ocorre nas Ciências Biológicas e da Saúde.  Embora as mulheres sejam maioria dentre as pessoas que obtiveram o título de Doutorado nos últimos 10 anos (2015-2024) – 55,9% (232 mulheres num total de 415 indivíduos) – os homens concentram 74,26% das bolsas de Produtividade (Pq-CNPq) no mesmo período – são 1.026 bolsistas do sexo masculino versus 356 do feminino. Apenas no ano de 2024, dos 155 beneficiários, 72,26% (112) são homens.

Somente 43 mulheres possuíam bolsa Pq-CNPq em Oceanografia em 2024 no Brasil.

Em 2015 elas já eram 52,8% dos doutores, chegando a 63,8% em 2019, caindo para 52,9% em 2020 e 50% em 2021. Em 2022 a proporção se eleva para 53,3% – pois a titulação masculina diminui – e conclui o período de 2024 em 52,3% (Imagem 1, em números absolutos). Isso demonstra que não há falta de contingente feminino qualificado que justifique a atual baixa representatividade de mulheres dentre os bolsistas de Produtividade. O gráfico de beneficiários de bolsa Pq-CNPq de 2015 a 2024 (Imagem 2) evidencia que a distância de desempenho entre ambos os sexos permaneceu grande ao longo de toda a década – de forma desfavorável às mulheres e em contraposição à sua superioridade de títulos.

Gráfico de obtenção de títulos de Doutorado em Oceanografia de 2015 a 2024, proveniente do Painel Lattes - Formação e Atuação.
Imagem 1: Obtenção de título de Doutorado de 2015 a 2024 por sexo. Fonte: Painel Lattes – Formação e Atuação.
Gráfico de obtenção de bolsas Pq-CNPq em Oceanografia de 2015 a 2024, por sexo. Proveniente do Painel de Fomento em Ciência, Tecnologia e Inovação.
Imagem 2: Obtenção de bolsa Pq-CNPq de 2015 a 2024 por sexo. Fonte: Painel de Fomento em Ciência, Tecnologia e Inovação.

Observando o quadro por Cor/Raça, as desigualdades também se manifestam. Dentre os titulados no Doutorado (2015-2024), 50,1% é composto de pessoas autodeclaradas Brancas. As demais são: Pardas (27,7%), Não declaradas (13%), Pretas (6%), Amarelas (2,2%) e Indígenas (1%). Já no caso dos bolsistas Produtividade (Pq-CNPq) do ano de 2024, a proporção é ainda maior para as pessoas Brancas – 68,39% (106 indivíduos), seguida de N.d. – 21,94% (34), Pardas – 7,10% (11),  Amarelas – 1,94% (3) e, com apenas um beneficiário, 0,65% Pretas. Não existem Indígenas detentores de bolsa Pq-CNPq em 2024 nem no período dos últimos 10 anos (2015-2024).

As instituições que mais formaram Doutores no Brasil entre 2015 e 2024 concentram-se no Nordeste (33%) e Sudeste (29,2%), seguidas da região Norte (15,7%), Não informada e Sul (11,1% cada). O ranking é liderado pela Universidade Federal do Ceará-UFC (18,3%) e Universidade Federal do Pará-UFPA (15,7%), seguidas da Universidade Federal de Pernambuco-UFPE (13,5%), Universidade Federal Fluminense-UFF (9,4%), Universidade Federal do Rio Grande-FURG (9,2%), Universidade Federal do Espírito Santo-UFES (8%), Universidade de São Paulo-USP (5,5%), Universidade Estadual do Rio de Janeiro-UERJ (2,9%), Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo-IOUSP (1,2%) e Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC (1%). Entretanto, dentre os bolsistas Pq-CNPq (2024), foi beneficiada majoritariamente a região Sudeste (53,87%). Quase empatadas estão a região Sul (21,94%) e Nordeste (21,29%) e, por fim, a região Norte (2,90%). As instituições mais contempladas são: USP (16,77%), Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ (10,32%), FURG (9,03%), Universidade Federal da Bahia-UFBA (7,10%) e UFSC (6,45%).

A análise de perfil interseccional (dimensões Sexo – Cor – Região) do conjunto de cientistas detentores de bolsa Pq-CNPq em Oceanografia em 2024, viabilizada pelo software AIP, gerou 20 perfis, sendo o grupo mais frequente caracterizado pelo padrão “Masculino – Branca – Sudeste” (1ª posição, 28 indivíduos). Empatados na 2ª e 3ª posição, com 16 indivíduos cada, estão os perfis “Feminino – Branca – Sudeste” e “Masculino – N.d. – Sudeste”. Na 4ª posição (12 indivíduos) encontra-se o perfil “Masculino – Branca – Sul”.

Percebe-se que as primeiras posições são compostas majoritariamente por indivíduos do sexo masculino, sendo que a cor branca e a região Sudeste são fatores que contribuem para “compensar” outra característica menos favorável (menos frequente). A região Sul é a segunda mais favorável, assim como a cor não declarada. O sexo feminino, as cores amarela e preta e as regiões Norte e Nordeste parecem atuar de forma desfavorável à obtenção de bolsas Pq-CNPq em Oceanografia, enquanto que a cor parda não influencia positiva ou negativamente nesse sentido. Como já dito, não foram encontrados indígenas dentre o grupo, bem como instituições provenientes da região Centro-Oeste.

A imagem 3 abaixo evidencia a proporção e frequência dos diferentes perfis, de acordo com o Sexo, Cor e Região, dos bolsistas abordados.

Gráfico em pizza de perfis interseccionais dos detentores de bolsa Pq-CNPq em Oceanografia (2024), distribuídos por porcentagem. Gerado a partir de pesquisa realizada com o software AIP (Feltrin, 2024).
Imagem 3 – Gráfico de perfis interseccionais dos detentores de bolsa Pq-CNPq em Oceanografia (2024), distribuídos por porcentagem. Fonte: AIP.

Referência

Pesquisa em andamento, parcialmente apresentada no XV Congreso Iberoamericano de Ciencia, Tecnología y Género, realizado na Universidad de la República (UDELAR), Montevidéu-Uruguai, de 16 a 18 de setembro de 2025. Resumo:

SOUSA, Lia Gomes P.; LOPES, Maria Margaret. “Mulheres nas ciências dos oceanos: trajetórias do passado, indicadores do presente”. Sesión 3 EJE 7 – Estructuras desiguales en el sistema científico-tecnológico: políticas de ciencia, tecnología e innovación (Moderación: Sofia Horjales). Disponível em: https://sites.google.com/view/congresoctg/inicio/res%C3%BAmenes/sesi%C3%B3n-3-eje-7#h.wshv9s7dsn19

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